Pois é, eu to bem.
A vida, de quando em vez, é boa.
Tudo do seu jeito, tudo a seu tempo e só eu impossível.
Houve tempo que eu queria ser feliz, mas veio a vida e mostrou o pedestal de ilusão que sustenta a felicidade.
Houve tempo que eu queria ter um alguém, mas veio o tempo e mostrou que eu sequer me tinha.
E eis que é chegado o hoje, na iminência da diluição.
No hoje, tenho o cabelo cacheado e gosto.
Tenho olhos grandes e gosto.
Tenho uma flauta e quero tocá-la para o mar.
Tudo no hoje.
Hoje, quando o vendo passa por mim, eu abro os braços.
Quando chega a grama, tiro os calçados.
Quando é hora de dormir, eu finjo que não tenho medo do escuro, desligo a luz e durmo.
Hoje,
Quando é tempo, tenho coragem.
Quando as lágrimas vêm, não se demoram.
Quando é tempo de sorrir, sorrio
E rio, porque meu sorriso é o que ninguém vê, é meu e só.
Hoje é dia que tudo está a seu lugar
E rio sem peso.
Tudo está em seu lugar e eu em lugar algum, porque é este o meu lugar: a vaguidão.
Hoje, a saudade me cumprimenta como velha amiga. Convivemos. Conversamos. Essa saudade lilás, pura, doce e constante, que, de tão refinada e visceral, não toca mais, nem de leve, a tristeza.
Hoje, tomei café da manhã com a alegria e com a dor.
Hoje, revi amores e desamores de épocas distantes e quase senti compaixão: tanto que levei deles e nada levaram de mim.
Fico aqui me cumulando, então.
Hoje, precisava escutar um coração batendo
Para ter certeza que ainda há coração que bate.
Precisava escutar a respiração de quem respira mais que ar
Preciso de alguém que beije de olhos abertos
Ver quem vê nessa terra de cegos
Encontrar um amor não-metamerizado.
Hoje, o medo não se sentiu seguro ´pra entrar, pois minha casa está branca com cortinas vermelhas.
Hoje não vi flores nem borboletas, mas uma criança me sorriu e me abraçou.
Hoje é luto e vida
E há amor.
Estou bem.
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