Me abismo num domingo que não aconteceu
E olho no fundo dos olhos do filho que nunca terei
E seguro na mão do companheiro de estrada que nunca me acompanhará
E conheço o abraço suave do amor que só habitará a face inabitada do meu coração.
Agora escuto o som da harpa que está em outra sala, em outro tempo
E isso me distrai
Enquanto contemplo o pôr-do sol dentro do meu quarto de paredes de concreto sem janelas
E penso:
Sou um pedacinho de teto do mundo que caiu no chão
E ainda estou cá, estatelada,
Desacostumada com a finitude.
E meu filho, recém-abortado me diz:
A vida é apenas o caminho mais curto para a morte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário